Os
trovões massacram o céu enquanto escuto os socos do Alexandre e os gemidos do
Murilo.
Eu
estou imóvel. Alexandre parece possuído, nunca o vi assim. Murilo tenta revidar
de alguma forma, mas o Alexandre não dá chances, ele está descontrolado.
-
Alexandre para com isso! Você vai matá-lo! – ouço os gritos da Alicia. Ela
acaba de sair do carro e corre até onde a cena brutal se desenrola.
Nesse
momento pareço despertar.
-
Alexandre para! – não sei como mais minha voz sai. Ele não me ouve, continua a
socar o Murilo que sangra muito pelo nariz. Acredito que esteja quebrado. Então
eu ajoelho no chão e seguro o braço do Alexandre, só então ele me encara. –
Para, por favor.
Seu
olhar fica perdido, no entanto está repleto de ódio. Murilo começa a tossir e
Alexandre dá mais um soco na cara dele, depois se levanta e o chuta três vezes
no estômago.
-
Para Alexandre! – Alicia pede o segurando pelos ombros. – Você vai matar o
cara. Você quer ser preso!
-
Eu não me importo. – ele diz entre dentes continuando com os chutes.
Levanto-me
e entro na frente ficando entre um Murilo já inconsciente no chão e um
Alexandre descontrolado. Tenho que fazer alguma coisa ou ele vai se complicar.
-
Para, por favor. Não faz isso, não mata ele. – peço num murmúrio.
Puta
merda estou muito assustada. Nunca o vi assim.
Alexandre
franze a testa e me olha torturadamente.
-
Há quanto tempo Fernanda?
-
Há quanto tempo o que?
-
Há quanto tempo você está com ele?! – grita comigo.
Olho
para o Murilo e ele começa a recobrar os sentidos, me volto para o Alexandre
tentando entender do que ele estava falando. Ok, ele deve ter visto o beijo
forçado do Murilo e acha que eu o estava traindo quando ainda estávamos juntos,
mas na verdade fui eu quem o pegou pulando a cerca com a Rebeca.
Encaro
Alicia e ela parece ter a respiração suspensa esperando por minha resposta.
-
Eu não tenho nada com ele eu...
Alexandre
puxa o meu braço me interrompendo. Olho em seus olhos e não gosto da forma como
ele me encara, sinto vontade de chorar e me aninhar no peito dele.
-
Por que Fernanda? Foi pelo dinheiro?
Franzo
o cenho.
-
Dinheiro? Que dinheiro? Alexandre do que você está falando?
Ele
olha para um ponto além de mim e eu me viro para trás. Murilo está de pé,
parece um pouco desnorteado. Seu olho esquerdo está inchado e seu nariz sangra
muito.
-
Quando contratou a sua cúmplice não contou a ela a história toda Murilo? –
Alexandre pergunta com um sorriso de escárnio.
Olho
de um para o outro, Murilo parece pálido.
Estou
cada vez entendendo menos. De onde o Alexandre conhece o Murilo? E quem é essa
cúmplice?
-
Não contou não é? – a voz do Alexandre sai cortante.
-
Não contou o que? – pergunto ao Alexandre na esperança de que ele me explique
alguma coisa. – Do que você está falando?
-
Porque você não pergunta ao seu amante? – ele atira sobre mim e eu arregalo os
olhos.
-
Ele não é meu amante! – grito me aproximando do Alexandre, mas Murilo me segura
pelo braço.
-
Vem Fernanda. Vamos embora.
Debato-me
até conseguir me soltar do Murilo.
-
Eu não vou a lugar nenhum com você! – digo entredentes.
Aproximo-me
do Alexandre e ele se afasta colocando a mão na frente para que eu não me junte
a ele.
-
Fica longe de mim.
Engulo
em seco.
-
Longe? – murmuro num fio de voz.
Por que ele me quer
longe?
-
Porra Fernanda... eu teria sido capaz de te dar o céu se você me pedisse.
Ele
me dá as costas e eu entro na sua frente. Não posso deixá-lo ir, não sem antes
me explicar. Na verdade eu acho que se eu o deixar ir embora agora vou perdê-lo
para sempre.
-
De onde você conhece o Murilo? E quem é essa cúmplice que ele contratou? –
lanço as perguntas pelas quais seria capaz de dar um braço para saber.
-
Já não me fez de palhaço o suficiente? – pergunta de uma forma assustadoramente
dolorosa.
-
Vem Fernanda. – Murilo me puxa tirando-me de perto do Alexandre. – Não escuta o
que ele diz...
O
olhar mortal que o Alexandre lhe dirige me dá calafrios.
-
Já disse pra você me soltar! – grito com o Murilo o empurrando para longe de
mim.
Vocês
dois me dão nojo. – Alexandre desse as escadas com a Alicia em seu encalço, ele
já está quase chegando ao carro quando eu o puxo pelo braço em completo
desespero.
-
Pelo amor de Deus me explica o que está acontecendo! – exijo já chorando.
Ele
me encara de uma forma dura.
-
Ele é o meu irmão Fernanda! – grita tão alto que acho que pode ser escutado do
outro lado do mundo. – Vai querer me convencer de que não sabe que ele não
passa de um miserável que teve a coragem de roubar a empresa da família e comer
a mulher do próprio irmão?!
Para o mundo que eu
quero entrar.
Eu
não sei o que dizer, só consigo pensar e pensar. Cenas passam por minha cabeça
com uma velocidade tão grande que me deixam tonta.
Olho
para um ponto além dele e então as peças aos poucos vão se encaixando...
Revivo
muitas coisas que o Alexandre me disse.
A
falta de crença nele nas pessoas:
- Eu não acreditava
mais nas pessoas, mas isso mudou quando conheci você. Você é uma pessoa boa...
A
raiva que ele tem do passado:
- Por que o meu
passado te interessa tanto?
A
falta de crença nele mesmo:
- Eu tenho medo que
você acabe se cansando de mim e me odeie por não ser o que você queria que eu
fosse.
O
horror que ele tem a mentiras:
- Prometa que nunca
irá mentir para mim.
Meu
coração se aperta e tenho um flashback
do que o Murilo me disse no elevador no primeiro dia em que o vi.
Ele
havia dito que tinha um irmão mais novo e que não se falavam há muitos anos por
causa de uma briga e por isso ele estava em São Paulo, queria concertar as
coisas.
-
Meu Deus! – coloco a mão na boca me despertando do transe.
Procuro
o Alexandre com os olhos, preciso me explicar a ele, mas a única coisa que vejo
é os faróis do seu carro.
-
ALEXANDRE!!! – grito a plenos pulmões, mas o carro já vai longe em alta
velocidade.
-
Fernanda me deixa te explicar... – Murilo me toca de leve no braço.
Fecho
os olhos e respiro fundo. Minha mão se fecha em um punho e eu me viro dando um
soco na cara dele.
-
Que tipo de monstro você é!
Ele
cambaleia para trás e eu avanço dando uma série de tapas nele.
-
Como você teve coragem?! Seu próprio irmão!
-
Fernanda para! Me escuta! – ele tenta se esquivar, mas eu não paro e ele acaba
caindo no chão.
-
Você sabia desde o início que eu namorava o seu irmão! – grito. – Foi para isso
que você se mudou para o meu prédio não foi?! Queria repetir essa história
nojenta!
-
As coisas não foram como ele disse. – ele fala se levantando e colocando as
mãos para cima em sinal de rendição. – Foi a Rebeca que me seduziu e... e... me
convenceu a roubar a empresa. Eu fui fraco...
-
CALA ESSA BOCA SEU IMUNDO! – coloco o dedo na cara dele.
Fico
ofegante enquanto lágrimas dessem dos meus olhos.
-
E agora ele acha que eu sou como a Rebeca... – ofego buscando ar. – ele acha que tenho um caso com... você...
Estou
espumando quando encaro aquela merda humana.
-
Você achou mesmo que eu iria cair no seu papinho de sedução? Que eu abriria as
pernas para o seu pau de ouro Murilo?! – chego perto, bem perto dele e olho
naquela cara cínica. – Você não merece ter um irmão como o Alexandre. Você não
merece nem viver!!
-
Acho que você está se esquecendo que o santo do meu irmãozinho te corneou com a
Rebeca. Acho que ele não é tão maravilhoso assim...
Fico
em choque.
-
Espera aí! Eu nunca te contei isso! Nunca mencionei nada com você... então
como... – paro e ele fica branco. – Meu Deus! Foi ela... a Rebeca? Vocês são o
que? Uma quadrilha?!
Sinto
sua mente trabalhar rápido. Ele fecha sua mão com força no meu cabelo e me
arrasta para o carro dele.
-
Parece que você já está sabendo demais Fernanda. O jeito vai ser te levar comigo!
-
Não! – protesto me debatendo.
A
chuva cai forte encharcando nós dois. Tenho que pensar rápido, só Deus sabe o
que aquele maluco fará comigo uma vez que eu estiver presa dentro do carro.
-
Me solta! – opero rápido e dou um chute forte no meio das pernas dele.
-
Vagabunda! – Murilo cai no chão e eu aproveito para escapar. O aperto dele no
meu braço se afrouxa e eu corro para a rua.
A
sorte parece estar do meu lado agora. Um taxi passa e eu aceno, o carro para e
eu entro as pressas.
-
Moço por tudo que é mais sagrado! Me tira daqui! – imploro ao motorista.
Quando
parei o carro na porta da casa do Dr. Tomas encostei a cabeça no volante. Alice
e eu havíamos feito todo o percurso em silêncio.
-
Então você tem um irmão, já foi casado e tem um lance com a secretária do meu
pai. E eu que achava a minha vida movimentada.
Começo
a bater minha cabeça no volante.
-
Eu ainda acho que você não deveria ter saído daquele jeito... – Alicia fala
insegura. – Ela parecia em choque...
-
É deve ter sido um choque saber que o amante é irmão do palhaço aqui.
-
Ela disse que eles não são amantes.
Encaro
Alicia e cerro os olhos.
-
E você acreditou?
-
Eu não sei. – ela dá de ombros. – Conheci Fernanda hoje, você sim a conhece há
mais tempo. Então me diz você, ela estava ou não falando a verdade?
Fernanda
não é perfeita. Ela tem defeitos que me
irritam, fez e disse coisas que me magoaram, mas ela era transparente.
Lembro-me do horror que vi no rosto dela no exato momento em que eu disse que o
Murilo era o meu irmão.
-
Eu nem sei direito o problema que você tem com o seu irmão e não vou ser
otimista de achar que você irá me contar, mas eu acho que você precisa
raciocinar melhor sobre isso. Não deixe a raiva por reviver alho horrível te
cegar. A raiva cega uma pessoa, se eu estivesse no seu lugar procuraria a
Fernanda e ouviria a versão dela olhando fundo em seus olhos.
Alicia
me dá um beijo no rosto e sai do carro.
******
Segui
o conselho da Alicia, fui até o prédio da Fernanda a sua procura, Matias, o
porteiro, informou que ela ainda não havia chegado. Esperei por meia hora e
nada, o celular dela só dava fora de área ou desligado.
Estava
começando a enlouquecer, onde diabos ela estava? E com quem? Seria com o
Murilo?
Não
aguentaria ficar ali sem fazer nada, deixei um recado com o porteiro para que
ela me ligasse assim que chegasse. Resolvi voltar para a porta da empresa na
esperança de que ela estivesse ali, mas foi em vão.
Cenas
do Murilo e da Fernanda juntos rondavam a minha cabeça tirando a minha paz. Eu
precisava de respostas. Precisava ter certeza de que ela não seria capaz de
fazer o que eu temia. Porque certo como o sol está presente todas as manhãs no
céu eu não aguentaria passar por tudo aquilo de novo.
Com
um sentimento de impotência e uma dor dilacerando-me por dentro minha única
alternativa foi ir para casa.
Minha
roupa estava pregada no meu corpo devido à chuva que tomei e eu tremia de frio.
Acabei molhando o banco do taxi por completo, mas eu estava aflita demais para
me importar. Assim que o taxi chegou ao meu destino peguei a minha bolsa
(também encharcada) e paguei a corrida.
Bati
na porta da Marta a beira do desespero, não podia ir para casa, sabia que seria
lá o primeiro lugar onde o Murilo me procuraria. Eu estava tão perdida e
sozinha...
Para
meu completo alivio é a Marta quem abre a porta, não saberia onde enfiar a cara
se fosse o marido ou a sogra dela que o fizesse. Eu estava em um estado
deplorável.
-
Por Deus Nanda! O que aconteceu?!
Não
consigo responder. Tenho medo. Frio. Dor.
Simplesmente
me atiro nos braços dela e convulsiono em um choro explosivo. Choro por mim.
Pelo Alexandre. Por todas as dores do mundo.
Marta
me abraça e afaga meus cabelos.
-
Puta que pariu Fernanda. Te pedi para não se meter em confusão...
Minha
cabeça explodia quando passei pela portaria. Não sabia mais o que fazer ou
pensar.
Eu
precisava achar a Fernanda.
Deus me ajude...
Mande uma luz, um sinal, alguma coisa!
-
Sr. Alexandre! – o porteiro me chama antes que eu chegue ao elevador.
Eu
me viro e ele me entrega uma caixa.
-
Deixaram isso aqui para o senhor há poucos minutos.
Analiso
a tal caixa um pouco desconfiado. Tem meu nome e endereço, mas só.
-
Não tem remetente?
-
Parece que não.
Abro
a caixa sem paciência e tiro de dentro um CD.
Mais que merda é
essa?
8 comentários:
Cada fez mais emocionante. E surpreendente.
Cada fez mais emocionante. E surpreendente.
Obrigada Grazi! Acho que amanhã tem mais!
Estou aqui em lágrimas pela NAnda eo Alexandre. ...por favor o próximo capítulo se não vou ter um ataque do coração aqui. ..
Regina estou escrevendo a todo o vapor para postar amanhã! Beijos!!!
Aaaah finalmente esses mal-amados vão ser desmascarados ;D
...Mas agora a Fernanda tem que tomar muito cuidado.
É Murilo está obcecado!
Estou a espera do próximo capítulo ...
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