domingo, 8 de fevereiro de 2015

Série Rendida - Novais J.

Quando nada mais pode piorar... (Parte II)

Os trovões massacram o céu enquanto escuto os socos do Alexandre e os gemidos do Murilo.
Eu estou imóvel. Alexandre parece possuído, nunca o vi assim. Murilo tenta revidar de alguma forma, mas o Alexandre não dá chances, ele está descontrolado.
- Alexandre para com isso! Você vai matá-lo! – ouço os gritos da Alicia. Ela acaba de sair do carro e corre até onde a cena brutal se desenrola.
Nesse momento pareço despertar.
- Alexandre para! – não sei como mais minha voz sai. Ele não me ouve, continua a socar o Murilo que sangra muito pelo nariz. Acredito que esteja quebrado. Então eu ajoelho no chão e seguro o braço do Alexandre, só então ele me encara. – Para, por favor.
Seu olhar fica perdido, no entanto está repleto de ódio. Murilo começa a tossir e Alexandre dá mais um soco na cara dele, depois se levanta e o chuta três vezes no estômago.
- Para Alexandre! – Alicia pede o segurando pelos ombros. – Você vai matar o cara. Você quer ser preso!
- Eu não me importo. – ele diz entre dentes continuando com os chutes.
Levanto-me e entro na frente ficando entre um Murilo já inconsciente no chão e um Alexandre descontrolado. Tenho que fazer alguma coisa ou ele vai se complicar.
- Para, por favor. Não faz isso, não mata ele. – peço num murmúrio.
Puta merda estou muito assustada. Nunca o vi assim.
Alexandre franze a testa e me olha torturadamente.
- Há quanto tempo Fernanda?
- Há quanto tempo o que?
- Há quanto tempo você está com ele?! – grita comigo.
Olho para o Murilo e ele começa a recobrar os sentidos, me volto para o Alexandre tentando entender do que ele estava falando. Ok, ele deve ter visto o beijo forçado do Murilo e acha que eu o estava traindo quando ainda estávamos juntos, mas na verdade fui eu quem o pegou pulando a cerca com a Rebeca.
Encaro Alicia e ela parece ter a respiração suspensa esperando por minha resposta.
- Eu não tenho nada com ele eu...
Alexandre puxa o meu braço me interrompendo. Olho em seus olhos e não gosto da forma como ele me encara, sinto vontade de chorar e me aninhar no peito dele.
- Por que Fernanda? Foi pelo dinheiro?
Franzo o cenho.
- Dinheiro? Que dinheiro? Alexandre do que você está falando?
Ele olha para um ponto além de mim e eu me viro para trás. Murilo está de pé, parece um pouco desnorteado. Seu olho esquerdo está inchado e seu nariz sangra muito.
- Quando contratou a sua cúmplice não contou a ela a história toda Murilo? – Alexandre pergunta com um sorriso de escárnio.
Olho de um para o outro, Murilo parece pálido.
Estou cada vez entendendo menos. De onde o Alexandre conhece o Murilo? E quem é essa cúmplice?
- Não contou não é? – a voz do Alexandre sai cortante.
- Não contou o que? – pergunto ao Alexandre na esperança de que ele me explique alguma coisa. – Do que você está falando?
- Porque você não pergunta ao seu amante? – ele atira sobre mim e eu arregalo os olhos.
- Ele não é meu amante! – grito me aproximando do Alexandre, mas Murilo me segura pelo braço.
- Vem Fernanda. Vamos embora.
Debato-me até conseguir me soltar do Murilo.
- Eu não vou a lugar nenhum com você! – digo entredentes.
Aproximo-me do Alexandre e ele se afasta colocando a mão na frente para que eu não me junte a ele.
- Fica longe de mim.
Engulo em seco.
- Longe? – murmuro num fio de voz.
Por que ele me quer longe?
- Porra Fernanda... eu teria sido capaz de te dar o céu se você me pedisse.
Ele me dá as costas e eu entro na sua frente. Não posso deixá-lo ir, não sem antes me explicar. Na verdade eu acho que se eu o deixar ir embora agora vou perdê-lo para sempre.
- De onde você conhece o Murilo? E quem é essa cúmplice que ele contratou? – lanço as perguntas pelas quais seria capaz de dar um braço para saber.
- Já não me fez de palhaço o suficiente? – pergunta de uma forma assustadoramente dolorosa.
- Vem Fernanda. – Murilo me puxa tirando-me de perto do Alexandre. – Não escuta o que ele diz...
O olhar mortal que o Alexandre lhe dirige me dá calafrios.
- Já disse pra você me soltar! – grito com o Murilo o empurrando para longe de mim.
Vocês dois me dão nojo. – Alexandre desse as escadas com a Alicia em seu encalço, ele já está quase chegando ao carro quando eu o puxo pelo braço em completo desespero.
- Pelo amor de Deus me explica o que está acontecendo! – exijo já chorando.
Ele me encara de uma forma dura.
- Ele é o meu irmão Fernanda! – grita tão alto que acho que pode ser escutado do outro lado do mundo. – Vai querer me convencer de que não sabe que ele não passa de um miserável que teve a coragem de roubar a empresa da família e comer a mulher do próprio irmão?!
Para o mundo que eu quero entrar.
Eu não sei o que dizer, só consigo pensar e pensar. Cenas passam por minha cabeça com uma velocidade tão grande que me deixam tonta.
Olho para um ponto além dele e então as peças aos poucos vão se encaixando...
Revivo muitas coisas que o Alexandre me disse.
A falta de crença nele nas pessoas:
- Eu não acreditava mais nas pessoas, mas isso mudou quando conheci você. Você é uma pessoa boa...
A raiva que ele tem do passado:
- Por que o meu passado te interessa tanto?
A falta de crença nele mesmo:
- Eu tenho medo que você acabe se cansando de mim e me odeie por não ser o que você queria que eu fosse.
O horror que ele tem a mentiras:
- Prometa que nunca irá mentir para mim.
Meu coração se aperta e tenho um flashback do que o Murilo me disse no elevador no primeiro dia em que o vi.
Ele havia dito que tinha um irmão mais novo e que não se falavam há muitos anos por causa de uma briga e por isso ele estava em São Paulo, queria concertar as coisas.
- Meu Deus! – coloco a mão na boca me despertando do transe.
Procuro o Alexandre com os olhos, preciso me explicar a ele, mas a única coisa que vejo é os faróis do seu carro.
- ALEXANDRE!!! – grito a plenos pulmões, mas o carro já vai longe em alta velocidade.
- Fernanda me deixa te explicar... – Murilo me toca de leve no braço.
Fecho os olhos e respiro fundo. Minha mão se fecha em um punho e eu me viro dando um soco na cara dele.
- Que tipo de monstro você é!
Ele cambaleia para trás e eu avanço dando uma série de tapas nele.
- Como você teve coragem?! Seu próprio irmão!
- Fernanda para! Me escuta! – ele tenta se esquivar, mas eu não paro e ele acaba caindo no chão.
- Você sabia desde o início que eu namorava o seu irmão! – grito. – Foi para isso que você se mudou para o meu prédio não foi?! Queria repetir essa história nojenta!
- As coisas não foram como ele disse. – ele fala se levantando e colocando as mãos para cima em sinal de rendição. – Foi a Rebeca que me seduziu e... e... me convenceu a roubar a empresa. Eu fui fraco...
- CALA ESSA BOCA SEU IMUNDO! – coloco o dedo na cara dele.
Fico ofegante enquanto lágrimas dessem dos meus olhos.
- E agora ele acha que eu sou como a Rebeca... – ofego buscando ar. –  ele acha que tenho um caso com... você...
Estou espumando quando encaro aquela merda humana.
- Você achou mesmo que eu iria cair no seu papinho de sedução? Que eu abriria as pernas para o seu pau de ouro Murilo?! – chego perto, bem perto dele e olho naquela cara cínica. – Você não merece ter um irmão como o Alexandre. Você não merece nem viver!!
- Acho que você está se esquecendo que o santo do meu irmãozinho te corneou com a Rebeca. Acho que ele não é tão maravilhoso assim...
Fico em choque.
- Espera aí! Eu nunca te contei isso! Nunca mencionei nada com você... então como... – paro e ele fica branco. – Meu Deus! Foi ela... a Rebeca? Vocês são o que? Uma quadrilha?!
Sinto sua mente trabalhar rápido. Ele fecha sua mão com força no meu cabelo e me arrasta para o carro dele.
- Parece que você já está sabendo demais Fernanda. O jeito vai ser te levar comigo!
- Não! – protesto me debatendo.
A chuva cai forte encharcando nós dois. Tenho que pensar rápido, só Deus sabe o que aquele maluco fará comigo uma vez que eu estiver presa dentro do carro.
- Me solta! – opero rápido e dou um chute forte no meio das pernas dele.
- Vagabunda! – Murilo cai no chão e eu aproveito para escapar. O aperto dele no meu braço se afrouxa e eu corro para a rua.
A sorte parece estar do meu lado agora. Um taxi passa e eu aceno, o carro para e eu entro as pressas.

- Moço por tudo que é mais sagrado! Me tira daqui! – imploro ao motorista.


Quando parei o carro na porta da casa do Dr. Tomas encostei a cabeça no volante. Alice e eu havíamos feito todo o percurso em silêncio.
- Então você tem um irmão, já foi casado e tem um lance com a secretária do meu pai. E eu que achava a minha vida movimentada.
Começo a bater minha cabeça no volante.
- Eu ainda acho que você não deveria ter saído daquele jeito... – Alicia fala insegura. – Ela parecia em choque...
- É deve ter sido um choque saber que o amante é irmão do palhaço aqui.
- Ela disse que eles não são amantes.
Encaro Alicia e cerro os olhos.
- E você acreditou?
- Eu não sei. – ela dá de ombros. – Conheci Fernanda hoje, você sim a conhece há mais tempo. Então me diz você, ela estava ou não falando a verdade?
Fernanda não é perfeita.  Ela tem defeitos que me irritam, fez e disse coisas que me magoaram, mas ela era transparente. Lembro-me do horror que vi no rosto dela no exato momento em que eu disse que o Murilo era o meu irmão.
- Eu nem sei direito o problema que você tem com o seu irmão e não vou ser otimista de achar que você irá me contar, mas eu acho que você precisa raciocinar melhor sobre isso. Não deixe a raiva por reviver alho horrível te cegar. A raiva cega uma pessoa, se eu estivesse no seu lugar procuraria a Fernanda e ouviria a versão dela olhando fundo em seus olhos.
Alicia me dá um beijo no rosto e sai do carro.
******
Segui o conselho da Alicia, fui até o prédio da Fernanda a sua procura, Matias, o porteiro, informou que ela ainda não havia chegado. Esperei por meia hora e nada, o celular dela só dava fora de área ou desligado.
Estava começando a enlouquecer, onde diabos ela estava? E com quem? Seria com o Murilo?
Não aguentaria ficar ali sem fazer nada, deixei um recado com o porteiro para que ela me ligasse assim que chegasse. Resolvi voltar para a porta da empresa na esperança de que ela estivesse ali, mas foi em vão.
Cenas do Murilo e da Fernanda juntos rondavam a minha cabeça tirando a minha paz. Eu precisava de respostas. Precisava ter certeza de que ela não seria capaz de fazer o que eu temia. Porque certo como o sol está presente todas as manhãs no céu eu não aguentaria passar por tudo aquilo de novo.
Com um sentimento de impotência e uma dor dilacerando-me por dentro minha única alternativa foi ir para casa.


Minha roupa estava pregada no meu corpo devido à chuva que tomei e eu tremia de frio. Acabei molhando o banco do taxi por completo, mas eu estava aflita demais para me importar. Assim que o taxi chegou ao meu destino peguei a minha bolsa (também encharcada) e paguei a corrida.
Bati na porta da Marta a beira do desespero, não podia ir para casa, sabia que seria lá o primeiro lugar onde o Murilo me procuraria. Eu estava tão perdida e sozinha...
Para meu completo alivio é a Marta quem abre a porta, não saberia onde enfiar a cara se fosse o marido ou a sogra dela que o fizesse. Eu estava em um estado deplorável.
- Por Deus Nanda! O que aconteceu?!
Não consigo responder. Tenho medo. Frio. Dor.
Simplesmente me atiro nos braços dela e convulsiono em um choro explosivo. Choro por mim. Pelo Alexandre. Por todas as dores do mundo.
Marta me abraça e afaga meus cabelos.
- Puta que pariu Fernanda. Te pedi para não se meter em confusão...


Minha cabeça explodia quando passei pela portaria. Não sabia mais o que fazer ou pensar.
Eu precisava achar a Fernanda.
Deus me ajude... Mande uma luz, um sinal, alguma coisa!
- Sr. Alexandre! – o porteiro me chama antes que eu chegue ao elevador.
Eu me viro e ele me entrega uma caixa.
- Deixaram isso aqui para o senhor há poucos minutos.
Analiso a tal caixa um pouco desconfiado. Tem meu nome e endereço, mas só.
- Não tem remetente?
- Parece que não.
Abro a caixa sem paciência e tiro de dentro um CD.
Mais que merda é essa?

8 comentários:

Unknown disse...

Cada fez mais emocionante. E surpreendente.

Unknown disse...

Cada fez mais emocionante. E surpreendente.

Josi Novais disse...

Obrigada Grazi! Acho que amanhã tem mais!

Unknown disse...

Estou aqui em lágrimas pela NAnda eo Alexandre. ...por favor o próximo capítulo se não vou ter um ataque do coração aqui. ..

Josi Novais disse...

Regina estou escrevendo a todo o vapor para postar amanhã! Beijos!!!

vi_meu_mundo disse...

Aaaah finalmente esses mal-amados vão ser desmascarados ;D
...Mas agora a Fernanda tem que tomar muito cuidado.

Josi Novais disse...

É Murilo está obcecado!

Anônimo disse...

Estou a espera do próximo capítulo ...

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