Quando nada mais pode piorar... (Parte I)
No
restaurante Alicia falava sem parar, narrava com diversão suas peripécias em
Miami nos últimos dois anos. O meu aceno com a cabeça era a única evidencia de
que eu estava ali. Alicia era legal, divertida e super auto astral, mas nem
todas essas qualidades conseguiram me distrair da merda em que a minha vida se
encontrava. Realmente pensei que mais nada do que Fernanda dissesse poderia
doer, me enganei de novo. Ouvir “eu odeio você” da mulher que você ama aprofunda
feridas.
Eu
odiava o fato de ter ouvido aquelas merdas da boca dela. Odiava o fato dela
acreditar que eu teria coragem de tocar na Rebeca quando ela era claramente
tudo o que eu precisava. E eu odiava essa vontade louca de beijá-la sempre que
olhava para sua boca, mas eu não conseguia odiar a Fernanda, pelo menos não por
muito tempo.
-
A comida está ruim?
Encaro
Alicia e ela tem um sorriso gentil no rosto.
-
Está ótima. – respondo.
-
Você mal tocou...
Dou
um suspiro e encosto as costas na cadeira.
-
Eu disse que não estava sendo boa companhia.
Ela
pega em minhas mãos sobre a mesa.
-
Gosto de ter você perto de mim. Mesmo que seja para fingir que presta atenção
no que falo.
Fico
envergonhado.
-
Alicia me desculpe. – corro as mãos pelos cabelos. – Minha vida anda
complicada.
Ele
coloca a mão no queixo e me observa.
-
Sua vida é complicada Alexandre e se bem me lembro você sempre tinha uma mulher
bonita pendurada no seu pescoço para te desestressar.
-
Nem sempre. – dou um sorriso torto.
-
Na maioria das vezes. – ela rebate. – Mas me conta, onde estão as mulheres
bonitas?
Eu
não respondo me limito a abaixar a cabeça.
-
Aquela secretária do meu pai, a Fernanda... – Alicia começa e eu a encaro. –
Ela parece ser bem competente, além de bonita é claro.
-
Sim ela é.
-
Acho que papai comentou uma vez que ela já foi sua secretária...
-
Sim trabalhamos juntos. – rebato um pouco desconfortável com aquele assunto.
Ela
dá de ombros e eu pego a taça de vinho levando aos lábios.
-
Sei lá... eu posso estar enganada, mas quando voltei para perto de vocês tive a
leve impressão de ter atrapalhado uma discussão. O que me remete a fazer a
próxima pergunta: o que rola entre vocês dois?
Engasgo e começo a tossir.
O
bichinho do ciúme estava dançando Rebolation
dentro de mim. O pior é que eu nem conseguia sentir raiva da Alicia, eu sei que
só o fato dela estar neste exato momento jantando com o meu ex já é uma
excelente razão para querer grudar no pescoço dela, mas tenho que admitir que
Alicia é legal. Eu gostei dela.
Marta
não havia chegado ao restaurante japonês que marcamos. Eu estava sozinha na
mesa esperando por ela, parece que a minha sina é viver sozinha pelo resto da
vida. Meu celular toca e o tiro da bolsa.
É
a Marta.
-
Marta que droga! – atendo irritada. – Eu estou com fome, você está atrasada e
para completar o Alexandre está jantando com a filha do Dr. Tomas. Onde raios
você está?!
- Ai Cristo! Com a
Alicia?! – ela grita e eu tenho que afastar o celular do
ouvido.
-
Você já a conheceu?
- Ela foi à sala
dele hoje, ficaram um tempo conversando. Puta merda Fernanda! Ela é bonita.
-
Nossa Marta eu nem tinha reparado. – digo no meu melhor tom irônico.
- Mas como você
sabe que eles estão jantando?
-
Dei de cara com eles na saída da empresa. – solto irada.
- Nanda isso é
péssimo para você.
-
Quer saber? Estou pouco me lixando. – ok eu estou, mas mentir de vez em quando
faz bem. – O que tínhamos acabou quando ele resolveu me cornear com a Cobreca.
- Nanda me escuta.
– Marta pede e seu tom de voz muda. – Ele
não transou com a Rebeca.
-
Como nã...
- Me escuta!
– ela grita me interrompendo. – Eu não
vou poder ir jantar, a minha sogra chegou de mala e cuia na minha casa e sem
avisar. Sérgio ainda não voltou do trabalho e não posso sair e deixá-la
sozinha. Assim que ele abrir a porta de casa eu largo a velha com ele e vou até
o seu apartamento.
-
Marta como assim ele não me traiu? – meu coração se aperta.
- Nanda aquele
homem te ama. Eu acho que você fez uma merda das grandes.
– ela fala preocupada. – Eu tenho que
desligar porque a mala da minha sogra está me chamando, presta atenção, me
espera na sua casa, passo lá assim que der. Até lá não faça nenhuma besteira e
pelo amor de Deus não se meta em confusão para não piorar a sua situação.
Ela
desliga me deixando atônita.
O que ela quis
dizer com “não se meta em confusão”?
-
E então Alexandre? – Alicia insiste na pergunta assim que paro de tossir.
-
Alicia eu acho que isso não é da sua conta. – respondo aborrecido.
Ela
gargalha.
-
Então rola mesmo alguma coisa. – afirma. – Alguma coisa bem forte por sinal.
Nunca te vi se esquivar de perguntas sobre os seus casos.
-
Ela não é um caso. – digo entre dentes e ela arregala os olhos.
-
Ai. Meu. Deus. Então ela é mais que um caso? – pergunta num fio de voz.
Solto
uma respiração pesada e não respondo.
-
Então ela é a culpada por você estar assim...
-
Assim como? – ergo uma sobrancelha.
-
Como se sua vida estivesse sem sentido, você parece vegetar.
Alicia
me dá um sorriso triste e eu abaixo a cabeça. É exatamente assim que me sinto.
-
Fico fora por dois anos e quando volto o cara que eu gosto está gamado em
outra? – ela pergunta me fazendo sorrir. – Vai me contar sobre esse lance de
vocês ou vou ter que descobrir sozinha?
Não
queria falar sobre a Fernanda. É como em um momento estar no céu e logo em
seguida ser atirado no inferno.
-
Eu não quero falar sobre isso. Pelo menos não hoje.
Ela
me lança um olhar compreensivo e volta a tocar a minha mão com a sua.
-
Sabe, no final das contas se for pra perder você para alguém como ela eu até
que me conformaria. Eu gostei da Fernanda.
Como
já estava no restaurante Japonês e amo comida japonesa resolvi jantar, o fato é
que nem aquela comida maravilhosa conseguiu tirar o gosto amargo da minha boca.
Só conseguia pensar nas palavras da Marta.
Eu
sei o que vi e vi muito bem.
Como assim ele não
transou com a Rebeca?
Acho
que nunca serei capaz de lembrar daquela cena sem sentir alguma dor. De repente
só quero ir para casa e deitar, me afundar no colchão e esconder o meu rosto no
travesseiro até o dia seguinte.
Pago
a conta e saio do restaurante deixando sobre a mesa a comida que mal toquei. Acho
melhor voltar para a porta da empresa, de lá será mais fácil chamar um taxi.
Enquanto
caminho um trovão alto se faz ouvir no céu.
Puta merda vai
chover!
Corro
para a grande cobertura da empresa enquanto os pingos de chuva ensopam minha
roupa.
Oh merda!
-
Adorei o nosso jantar. – Alicia diz com um sorriso.
Estamos
dentro do carro e eu acabo de girar a chave na ignição.
-
Eu também.
-
Vai me levar para casa? – ela pergunta colocando a mão na minha perna.
Retiro
a mão dela e a fito.
-
Você prometeu se comportar e sim, eu te deixarei para a sua casa.
Ela
ri jogando a cabeça para trás.
-
Prometi me comportar até o jantar terminar e ele já acabou faz tempo. Quanto a
levar para casa, eu estava me referindo para a sua casa.
Tiro
minha atenção do transito só para encará-la com o cenho franzido.
-
Sem chances.
-
Sabia que você diria isso. – ela faz beicinho. – Mas é como dizem... vai que
cola.
-
Se importa se passarmos na empresa? Preciso pegar uma pasta que acabei
esquecendo. Vai ser rápido. – mudo de assunto.
-
Não, eu não me importo. – responde olhando para fora da janela do carro. –
Nossa parece que teremos um dilúvio pela frente.
Um
barulhento trovão explode o céu como se para confirmar suas palavras.
-
É parece.
Eu
devo ter passado por baixo de escada, visto um gato preto e quebrado um
espelho. Tudo isso em um só dia.
Não era possível!
Que raios de azar é
esse?!
A
chuva caia forte e parecia que não daria trégua por tão cedo. Se não fosse a
cobertura da empresa há essa hora eu já estaria ensopada. Para completar nenhum
táxi passava para me levar pra casa.
Um
carro preto com vidro fumê para na porta da empresa e o vidro do lado do
motorista é abaixado. Franzo o cenho ao me deparar com olhos verdes matadores e
um sorriso torto.
-
Parece que a chuva te prendeu Nanda! – ele grita para se fazer ouvir em meio
aos trovões. – Que tal uma carona?!
-
O que você faz aqui Murilo?!
-
Pra sua sorte eu estava de passagem quando te vi. – ele sorri.
A
lista de motivos pelos quais eu não deveria entrar naquele carro com ele era
quilométrica. Principalmente depois da nossa última conversa.
-
Murilo eu já chamei um taxi. – minto na maior cara dura. – Ele já deve estar
chegando. De qualquer forma obrigada.
Ele
abre a porta do carro e sai correndo em minha direção. Agora estamos os dois
debaixo da cobertura da empresa.
Engulo
em seco.
-
Sabe Fernanda... você mente muito mal. – ele dá um passo em minha direção.
Fala
sério! Eu tive um dia do cão e estava sem a mínima paciência para esses
joguinhos dele. Coloquei um sorriso petulante na boca e o encarei
corajosamente.
-
É você tem razão, não chamei táxi nenhum. O fato é que eu não quero ir com
você.
Ele
ergue as sobrancelhas, acho que surpreso com a minha ousadia.
-
Já estou ficando um pouco de saco cheio desse seu medinho de mim. – ele da mais
um passo a frente e eu dou dois para trás batendo com as costas na parede.
Ele
avança espalmando as mãos em cada lado da parede me encurralando.
-
Para com isso Murilo. – tento empurrá-lo, mas sem sucesso.
Ele
gruda o seu corpo no meu e uma de suas mãos pousa em minha cintura em um aperto
forte.
Tento
empurrá-lo de novo e dessa vez uso toda a minha força.
-
Desencosta! Tira essa mão de mi... – ele imobiliza minha cabeça com as mãos e
aproveita minha boca aberta em um protesto para enfiar a língua dentro dela.
Estaciono
o carro na porta da empresa e fito Alicia. Ela tem o cenho franzido e olha para
algo do lado de fora.
-
Que foi Alicia? – pergunto preocupado, ela segura em meu braço.
-
Acho melhor a gente ir embora. – responde vacilante com um sorrisinho sem graça.
Ergo
uma sobrancelha desconfiado e me volto para a janela.
Parece
que alguém acaba de me molhar com gasolina e acender o fósforo. Quero acreditar
que não é ela ali se agarrando com um filho da puta qualquer. Minhas mãos
apertam o volante até os nós dos meus dedos ficarem brancos.
-
Alexandre fica calmo ok?
Alicia
fala alguma coisa, mas eu não escuto. Meus ouvidos estão tampados neste
momento.
Ligo
o carro pronto para ir embora, não temos nada. Não mais.
O
que Fernanda faz ou deixa de fazer tem que parar de ter tanta importância pra
mim. Começo a respirar fundo e desligo a merda do carro.
Parar de ter tanta
importância é um caralho!
Se
ela quer se amassar com outro cara que faça isso em outro lugar. Não na porta
da porra da minha empresa.
Desço
rapidamente e bato a porta do carro com muita, mais muita força.
-
Alexandre volta aqui! – Alicia grita, mas eu não volto.
Preciso
quebrar alguma coisa... vou começar pela cara do filho da puta que está cheio
de mãos pra cima da Fernanda.
Subo
os degraus correndo e quando chego perto eles se afastam. Fernanda percebe a
minha presa e me olha entre assustada e surpresa, o cara se vira pra mim
devagar e quando finalmente encaro o filho da mãe que devo matar meu mundo
desmorona.
A
única coisa que ronda a minha cabeça é: De
novo não... de novo não... de novo não...
Não consigo desviar os meus olhos do Murilo,
não o vejo desde... desde... que o peguei na cama com a Rebeca.
Ele
coloca um sorriso debochado na boca e aquilo me faz perder a cabeça.
-
DESGRAÇADO! – meu punho fecha com tudo na cara dele o fazendo cair no chão.
Quando
peguei ele comendo a minha mulher não consegui fazer absolutamente nada. Apenas
fiquei parado, derrotado, escutando ele contar o quanto eles estavam se
divertindo juntos, roubando o meu dinheiro e me enganando a um bom tempo, mas
agora seria diferente.
O
desgraçado ainda está no chão quando parto pra cima socando a cara dele, eu não
paro um segundo.
Eu vou matar o
Murilo.
Segunda parte sai amanhã!
9 comentários:
Amanha serio. Vou ter um Treco. Muito bom excelente capitulo como sempre. Amanha chegue logo.......
Aí meu Deus não faça isso com meu coração josi estou contando os minutos.... amei o capítulo de hoje. ...ansiosa para o próximo. ..
Amanha tem que chegar rápido tó super ansiosa tá EXCELENTE
Enfin chegou domingo anciosa pela postagem do capitulo. Bjoss...
Enfin chegou domingo anciosa pela postagem do capitulo. Bjoss...
Meninas sei que todas estão super ansiosas e agradeço muito por todo esse carinho!
O capítulo deverá sair no final da tarde.
Grande beijo!
Tomara que a Fernanda deixa o Alexandre dá uns ótimos socos no Murilo, e se a Alicia fala para separa-los a Fernanda disser que não por causa do beijo forçado... Ai tomara que o Alexandre e a Fernanda se acertem :'(
Estou torcendo para que eles se acertem logo!
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